16 julho, 2008

O outro Pedro Juan

Quando o autor britânico Graham Greene escrevia suas obras na década de 50, talvez não imaginasse que mais de meio século depois outro escritor reescreveria seus passos - com um toque de ficção. Pois é extamente isso que o cubano Pedro Juan Gutiérrez faz em Nosso GG em Havana, seu mais recente livro lançado no Brasil. O livro não tem Pedro Juan como personagem, mas não abandona o estilo que tornou o cubano admirado no mundo todo.


Nosso GG em Havana se passa na capital de Cuba dos anos 50, até então uma cidade promissora - ainda que já convidativa ao pecado. A história começa quando Graham Greene descobre que é acusado pelo assassinato de um alemão residente em Havana. GG embarca para a ilha cubana com o objetivo de investigar e esclarecer a situação (e, quem sabe, conseguir uma boa idéia para um próximo livro). Aos poucos, se vê em uma trama política complicada, que envolve americanos, soviéticos e alemães.

Pedro Juan traça o perfil de Havana da década de 50 - momentos antes da Revolução Cubana de 59 - ao mesmo tempo em que mostra o que há de mais grotesco (e, por isso mesmo, sedutor para alguns) na cidade. Próximo de hotéis luxuosos, grandes casas noturnas com shows eróticos capazes de surpreender até os mais liberais. O que dizer da apresentação do Super-Homem, por exemplo? Horrível, nojento, mas escrito por Pedro Juan é até engraçado.

E esse é o encanto de Pedro Juan. Ele escreve umas putarias e umas nojeiras que, ainda que desnecessárias à primeira vista, são essenciais para se compreender o espírito de Havana. E a maneira sincera demais, direta demais - e sem censura alguma - só contribui em sua literatura. Ele mostra a capital cubana tal como ela é. Os julgamentos ficam por conta do leitor.

Interessante lembrar que Graham Greene realmente esteve em Cuba e, em 1958, publicou Nosso Homem em Havana, que narra a história de um alemão vendedor de aspirador de pó, extamente como um dos personagens do livro de Pedro Juan.

Nosso GG em Havana difere das outras obras de Pedro Juan, mas é engraçado, dinâmico e dono de uma trama envolvente. E é como olhar um retrato de uma cidade que, ao contrário do que parecia, já estava condenada às conseqüências da Revolução.

Fica a dica.

Um comentário:

Yuri A. disse...

eu gosto quando um escritor se reinventa dessa maneira. Acho esse livro excelente!
Beijo!