30 dezembro, 2008

Adeus, ano velho!

Quando eu for bem velhinha - dessas senhoras que sentam na cadeira e passam a tarde inteira lendo seu livro favorito sempre com a mesma emoção - , lembrarei-me bem de 2008. E terei, certamente, boas recordações. Este ano que já está indo foi marcante, decisivo, intenso e belo, mui belo.

Tive muito de mim em 2008. Ri das mesmas piadas, essas que o Yuri conta todo dia e que esqueço cinco segundos depois (o que é ótimo, pois irei sempre me divertir com as mesmas anedotas), chorei nas Olimpíadas da China, no dia da eleição do Obama e, principalmente, na noite em que assisti ao filme Elsa & Fred. Li O Tempo e o Vento e mais um monte de ótimos livros. Assisti a excelentes filmes, em casa e no cinema, sempre em ótimas companhias. Saí mais, descobrimos, Yuri e eu, novos lugares (o Quintana é muito bom, precisamos ir lá mais vezes). Ouvi boa música, fui ao show da Monica Salmaso e do Arrigo Barnabé. Não fui ao da Madonna nem consegui ver o Saramago, mas fazer o quê?

Surpreendi e fui surpreendida neste ano. Decepções ocorrem para todos, já diz minha avó; é parte da vida. Muitas conquistas, novos amigos, novos lugares, o grande amor. Fiquei mais forte, mais independente. Fui muito feliz.

2008 foi um ano feliz.

Aprendi com o Yuri e com um cãozinho de rua que na vida não se é feliz: tem-se momentos felizes. Este ano foi assim, repleto de momentos felizes. Espero que seja assim também no ano que está vindo aí.

***

Novo layout.

18 dezembro, 2008

Os filmes de 2008

Inspirada nos blogs de grandes portais, resolvi fazer minha listinha dos 10 melhores filmes de 2008. Ao contrário do Zeca Camargo, que escolheu em primeiro lugar um longa que ele ainda não viu, elegi 10 de todos os filmes que vi neste ano. E também deixei de fora os filmes que concorreram ao Oscar 2008, como Onde os Fracos Não Têm Vez e Juno.


Então vamos lá:


1. Wall-E
2. Estômago
3. Batman - O Cavaleiro das Trevas
4. Trovão Tropical
5. Ensaio Sobre a Cegueira
6. Queime Depois de Ler
7. Antes de Partir
8. Vicky Cristina Barcelona
9. O Orfanato
10. Na Natureza Selvagem

Mico do ano: Espelhos do Medo

10 dezembro, 2008

Cara Clarice,

Você disse que desejava que apenas quem tivesse a alma pronta lesse A Paixão Segundo G.H. .

Acho que nunca teremos a alma pronta. E li.

Se tivesse que definir A Paixão Segundo G.H em uma frase, assim seria:

Escrito com a alma e com as vísceras

24 novembro, 2008

A rua das pedras disformes


Andava por aquelas ruas de pedras disformes. Se pensava em algo, certamente não se tratava de nada especial, pois não me lembro. Minha mente estava leve, cheia de ar. Lembro-me apenas das pedras disformes que formavam a calçada. E recordo-me delas porque tropecei duas ou três vezes. Estou sempre tropeçando, na verdade, independente do tipo de pedra que forma a calçada ou mesmo a rua.

Tropecei e senti o vento forte. Poeira e folhas. Avistei, então, algumas pessoas. Elas estavam muito próximas umas das outras. Disputavam um espaço. Não sei quanta gente havia ali porque simplmesmente não contei. Aproximei-me, mas não muito, da pequena multidão. Dois homens seguravam uma pá. Estavam cavando um buraco. Cavavam, cavavam, cavavam. Era fundo.

O rosto de cada pessoa ali presente demonstrava revolta, raiva, desprezo. Mas eram pessoas contidas, revoltavam-se caladas. Eu não sabia do que se tratava. Que buraco era aquele? Eu não sabia. Não sabia por quê tanta gente observava dois sujeitos cavando um buraco no meio da rua de pedras disformes. Resolvi perguntar.

- Por que estão cavando?
- Há uma mulher enterrada aqui.

Minha face também demonstrou uma raiva contida. Porém, a expressão dos demais denotava surpresa. Sim, ficaram surpresos diante de minha pergunta. Eu era nova ali. Talvez, não tivesse o direito de questionar as ações dos demais. Resignei-me ao silêncio. Continuei assistindo à cena.

Enquanto os dois homens cavavam, uma espécie de comoção tomava conta de mim. Eu estava ali e estava em lugar nenhum. Fui a todos os lugares. Voltei quando ouvi o sussuro de uma senhora.

- Como ela ousa? Assiste ao momento que ela mesma criou.

Aquela fala era para mim. O olhar daquela senhora era voltado para mim. E os homens pararam de cavar.

- O corpo dela está aqui. Há quantos dias, senhorita?

A pergunta era para mim.

- Eu não sei. Sou nova aqui. Cheguei há não mais do que dois ou três voares das borboletas.
- Mentira. Você a enterrou aqui. Nós sabemos.

Não, eu não enterrei ninguém. Não sabia quem era a morta. Estava sendo acusada de algo que não fiz. De ser alguém que não sou e que recuso acreditar que possa ter sido.

Eles estavam loucos.

Recuei alguns passos. Eles avançavam em minha direção. Não havia outra maneira senão fugir. Corri. Corri cada vez mais rápido. As pedras disformes já não importavam. E todas as cores se resumiam a vermelho. E toda a rua transformou-se em um único corredor. Eu não cabia lá.

E o corredor vermelho agora era uma sala, igualmente vermelha. Eu estava só. Nãi mais acusações ou perseguições. Ouvi acordes de violino. Não matei nem enterrei ninguém, mulher alguma, homem algum. Nem mesmo uma criança ou cachorro. Não, nunca.

Os acordes aumentaram. E as paredes da sala vermelha começaram a mover-se. "Serei esmagada", foi meu último pensamento.

Estive no inferno e voltei. Trago boas notícias.

20 novembro, 2008

Não existe lugar melhor do que seus braços.

03 novembro, 2008

E o que é a vida?

We may be fighting a losin' battle
but havin' a lotta fun
tryin' to win

01 novembro, 2008

Boa notícia

Sony e Paramount cogitam financiar adaptação de "Tintin" em 3D

da Folha Online

As companhias Sony Pictures Entertainment e Paramount Pictures cogitam financiar o projeto de adaptação para o cinema em 3-D dos quadrinhos "Tintin", do belga Hergé (1907-1983), informou a revista americana especializada em entretenimento "Variety".

A adaptação é um projeto de Steven Spielberg e Peter Jackson e os estúdios Universal desistiram do financiamento por considerar que a empreitada era pouco rentável.

Após resolver o dilema da separação entre a Paramount e a DreamWorks, "Tintin" voltou a ser uma prioridade para Spielberg, segundo a revista.

A Paramount chegou a oferecer um orçamento de US$ 135 milhões (R$ 289,9 milhões). Nem a Sony nem a Paramount comentam o caso, mas confirmam que a existência de negociações.

Spielberg esperava já estar produzindo o longa, mas agora tem como meta completar "Tintin" a tempo para lançá-lo em 2020. Jackson vai dirigir o filme.

No acordo atualmente em negociação, a Paramount planeja distribuir o filme no mercado norte-americano e em territórios onde se fala o inglês. A Sony ficaria com outros mercados. Contudo, "Tintin" não teria nenhuma associação com a DreamWorks.

Inicialmente, Spielberg e Jackson imaginaram dirigir e produzir três histórias baseadas nas aventuras de Tintin .

27 outubro, 2008

Dicas

Sem tempo para postar. Por isso, hoje só vim dar algumas dicas:

Gosto bastante do site IdeaFixa , para o qual minha amiga Denise escreve. Várias dicas de exposições, artes plásticas, fotografia, design, desenhos e ilustrações. E vou tornar público o que digo todos os dias: tem muita coisa lá que meu artista favorito poderia usar. Bacana pra quem gosta desses assuntos.

Recomendo também toda a saga de O Tempo e o Vento, do Erico Veríssimo. Terminei de ler o último volume no sábado, de madrugada, entre lágrimas e soluços.

Por fim, não recomendo o filme Espelhos do Medo, com o Jack Bouer. Pior filme do ano.

20 outubro, 2008

Alice e os Coen

Desde ontem estou tentando fotografar um gatinho branco que fica em umas pedras distribuindo chamegos para quem quer que o observe. Porém, toda vez que desço com a máquina fotográfica ele não está mais lá. Simplesmente some. Não sei como funciona a intuição felina, mas parece que o bichano sempre sabe quando apareço para registrar suas peraltices. Sinto-me Alice perseguindo o gato (sei que a história não é bem essa). Tudo bem, é mais ou menos parecido.



Talvez o gato não exista.
***



E por falar em fotografia, o que dizer dos filmes dos irmãos Coen, né? Ontem assisti (de novo) ao Ei, irmão, cadê você?. Esse é um dos melhores filmes deles e a melhor atuação de George Clooney. E eu acompanho a carreira de Clooney desde a primeira temporada de Plantão Médico. Mas voltando aos irmãos Coen...todos, eu disse TODOS os filmes deles têm fotografias lindas. Mesmo se as histórias fossem ruins, valeriam por cada imagem.

Tento fazer aqui um Top 3 dos melhores filmes dos Coen, mas é muito difícil. Mas vamos lá:

1. Onde os fracos não têm vez
2. Fargo
3. Ei, irmão, cadê você?

(E é com dor no coração que não entram na lista O Grande Lebowski e todos os outros).

10 outubro, 2008

Sobre meu encontro com Sabino

Não sei você, mas eu não acredito no acaso. Tudo, mas tudo mesmo, acontece com um porquê, por um motivo (até mesmo os R$ 60 que perdi ontem). Por isso, acredito que meu encontro com o Fernando Sabino aconteceu do jeito que tinha que acontecer.

Explico.

No dia 11 de outubro de 2004, fui ao centro da cidade por uma razão que nem me lembro qual. E, como já havia terminado o que tinha para fazer, resolvi dar uma volta na Biblioteca Pública. Estava com vários livros para ler, mas ainda assim entrei. Entrei e fiquei passeando entre as estantes da seção de literatura. Não tenho na mente todos os detalhes daquela manhã, mas acho que dei voltas e voltas lá dentro.

De repente, parei e pensei: “o que estou fazendo aqui mesmo?”. Nesse momento, estava diante da prateleira de Fernando Sabino. Retirei, como quem não quer nada, o livro O Encontro Marcado. Emprestei sem saber se iria ler.

Por volta das 14 horas, ouço aquela musiquinha do Plantão da Globo. Informaram o falecimento do escritor Fernando Sabino, de câncer. Derramei algumas lágrimas sem nem perceber. Lembrei do livro na bolsa. Iniciei a leitura no mesmo dia.

Para resumir: O Encontro Marcado narra a história de Eduardo (com muito do próprio Sabino), desde sua infância e juventude em Belo Horizonte até o momento em que ele vai para o Rio de Janeiro e torna-se jornalista.

E O Encontro Marcado era bem o que eu precisava naquela época. Toda a trajetória do menino de Minas, sonhador, sonhador, me inspirou a também mudar, a também seguir meu caminho, a não ter medo do que não conheço. Enfrentar o mundo é difícil, mas é difícil pra todo mundo.

Depois de ler O Encontro Marcado, eu mudei.

Fico sempre com a frase que define o livro:

“Ele faria da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura, um encontro”.

02 outubro, 2008

Apenas para registrar...

- Falaste há pouco em ser autêntico ou inautêntico...Pois estou convencido de que a maior pedra de tropeço que tenho encontrado na minha busca de autenticidade é o desejo de ser aceito, querido, aprovado, e que quase me levou a um conformismo estúpido, uma inclinação que me vem da infância e que acabou entrando em conflito com outra obsessão minha não menos intensa: a de ser completamente livre. São ou não são desejos completamente contraditórios?

Roque Bandeira dá de ombros.

- Meu velho, na minha opinião, amadurecer é aceitar sem alarme nem desespero essas contradições, essas...condições de discórdias que nascem do mero fato de estarmos vivos. Não escolhemos o corpo que temos (olha só o meu) nem a hora ou a sociedade ou o lugar em que nascemos...nem nossos pais. Essas coisas todas nos foram impingidas, digamos assim, de maneira irreversível. O homem verdadeiramente maduro procura vê-las com lucidez e aceitar a responsabilidade de sua própria existência dentro dessas condições temporais, espaciais, sociológicas, psicológicas e biológicas. Que tal? Muito confuso?

***
Trecho de O Tempo e o Vento (parte III), O Arquipélago (vol.2). Agora falta um livro e meio praticamente.

29 setembro, 2008


Aos dezessete anos, eu já havia lido muita coisa interessante, mas não havia lido Machado de Assis. Um parênteses: já havia lido Esaú e Jacó para a escola, mas não tinha maturidade literária o suficiente. Até que um dia, como quem adentra em um mundo de aventuras, resolvi ler Memórias Póstumas de Brás Cubas. Um livro incrível, com uma narrativa diferente até então do que eu já havia lido, personagens memoráveis, um Rio de Janeiro longe de ser a Cidade Maravilhosa, mas ainda muito atual. Todo o cinismo, a ironia e o sarcasmo das memórias de Brás Cubas, que escreveu: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembranças estas Memórias Póstumas". Mais do que esta, lembro-me do impacto que me causou a sinceridade nua e crua em:

"Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis".

Até hoje, para mim, essa é a frase mais marcante da literatura brasileira de todos os tempos.

Aí, veio o Quincas e aquela vontade de gritar "seu burro, seu burro!" misturada a um sentimento de pena por um homem ingênuo e apaixonado. Claro, sem esquecer das reflexões sobre "Ao vencedor, as batatas". E depois, o Dom Casmurro e aquela dúvida cruel - Capitu traiu ou não traiu Bentinho? (Hoje, vi uma matéria no Bom Dia, Brasil, na qual a Fernanda Montenegro dizia que o Bentinho sentia ciúme do Escobar, e não da Capitu. Será?).

Sem falar nos contos, nas crônicas, nos poemas, ensaios, criticas, peças...


E viva Machado!

25 setembro, 2008


Hoje nada vai me aborrecer. Não vou ficar chateada por ter acordado às 5 da manhã e começado a trabalhar às 6h15. O frio intenso dessa cidade não me aborrece. Nem a garoa fina e gelada mexe com meus nervos. Não. Hoje eu poderia ter cruzado com milhares de pessoas mal educadas - nenhuma delas me revoltaria. Os latidos dos poodles e as crianças incovenientes não me incomodaram. Nem mesmo o trânsito pesado das seis da tarde me tirou do sério. Não, hoje não.

Hoje, o que mais marcou foram as palavras bonitas que li/ouvi de outros autores. E há dias em que aquelas certezas de sempre parecem valer mais, muito mais. Hoje meus sentimentos não cabem em mim. Estou menor do que o usual diante de tudo o que sinto.

Menina, a felicidade é cheia de praça, é cheia de traça, é cheia de lata, é cheia de graça.

Eu sei o que é serenidade.

17 setembro, 2008

***

Eu não sabia explicar nós dois
Hoje eu sei, hoje eu sei
Eu e ele
Ele e eu
Somos apenas um
[e somos sempre dois, os dois]
Somos amor
Hoje eu sei, hoje eu sei...

14 setembro, 2008

Ontem estava um dia frio e chuvoso em Curitiba, daqueles que pedem que a gente não coloque o nariz para fora de casa. Mas vencemos a preguiça, Yuri e eu, e fomos ao cinema assistir ao tão aguardado Ensaio Sobre a Cegueira.


Confesso que fui um pouco desconfiada, já que a crítica falou mal, bem mal do filme. Estava com medo de ver uma adaptação ruim de um grande livro, tal qual aconteceu com o longa O Amor nos Tempos do Cólera. Porém, logo nos primeiros minutos de filme, a gente lembra que críticos são um bando de mal humorados. O filme é muito bom, bem fiel ao romance de José Saramago. Meirelles, diretor de O Ensaio sobre a Cegueira, conseguiu muito bem passar o clima de desespero e agonia do livro.

Não vou fazer aqui uma resenha sobre o filme porque tenho que ir ali estudar para a prova de Metodologia. Quando puderem, confiram o filme. Vale a pena.

27 agosto, 2008

Acho que a minha geração ouviu falar de Charles Chaplin na escola. Todo professor de história já passou Tempos Modernos para mostrar a produção em série e a crítica ao capitalismo. Já dava para pecerber que Chaplin era especial. Mas é preciso crescer para entender o quanto.



No último sábado, vi aquele filme sobre ele, Chaplin, estrelado pelo Robert Downey Jr. Um parênteses: eu não gosto deste ator; acho ele um mala sem alça espancador de mulheres. Mas dou o braço a torcer - ele está perfeito como Chaplin. Voltando, este filme me fez entender a real importância de Charles Chaplin para o cinema.

Ontem, pude rever O Garoto na aula de cinema. Não tenho vergonha de dizer que chorei. Choro mesmo. Acho que O Garoto é o filme mais singelo e encantador de todos os tempos (ao lado de O Jardim Secreto). "Um filme com um sorriso e, talvez, uma lágrima".



Quero ver mais e mais Charles Chaplin.

21 agosto, 2008

O Yuri me contou que soube de um cara que gostava de ver filmes com fratura exposta. Eu gosto de ver filmes chineses de época. Aqueles com lutas bonitas, cenários magníficos, fotografia exemplar e um figurino colorido. Tipo O Tigre e o Dragão, O Clã das Adagas Voadoras e Herói. Bom, vi apenas algumas cenas deste último e me pareceu ótimo.



Não me perguntem por quê gosto desses filmes. Eu não sei explicar. Eu gosto de artes marciais. Os assuntos são os mais comuns: gente brigando por amor e poder. E acho incrível como arranjam chinesas e chineses bonitos.

Na verdade, eu gosto das lutas e das roupas bonitas.



Também gosto dos filmes nos quais o Al Pacino grita alguma coisa - qualquer coisa. Mas isso fica pra depois.

14 agosto, 2008

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.

É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio,
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar.

É sempre bom lembrar,
Guardar de cor que o ar vazio
De um rosto sombrio está cheio de dor.

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.
Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho,
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor.
Que a dor ocupa metade da verdade,
A verdadeira natureza interior.

Uma metade cheia, uma metade vazia.
Uma metade tristeza, uma metade alegria.
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor.
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor.

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar


(Acho essa música tão bonita...)

07 agosto, 2008


Quando acordou, o padre foi verificar se ela estava morta. A beata não respirava. Ele pediu perdão a Deus como quem já não crê em mais nada. Às vezes, muitas vezes, na verdade, fazemos as coisas por puro costume. Anos e anos rezando a mesma missa, pregando os mesmos sermões, ouvindo os mesmos pecados. A vida de um padre é somente rotina. Este padre em questão cansou dos dias iguais. Queria experimentar as idéias que rondavam sua mente.


Da primeira vez que experimentou, sentiu nojo de si próprio. Como pude, como pude, meu Deus? Logo percebeu, porém, que sentia pura culpa cristã – essa que a maioria dos humanos sente todos os dias, várias vezes. Pois o homem, o padre, viu que era bom e experimentou outras vezes. Sentiu prazer. Sentiu-se forte por dominar o frágil. Encontrou poder. Pensou ser maior que o criador.


Mas ela descobriu. A beata era bonita e poderia ter o homem que quisesse. Ela escolheu servir ao que não tem rosto nem forma nem voz. A beata descobriu. Ouviu um gemido que não vinha das orações do padre, que há muito tempo não orava mais. A voz do gemido era fina. A voz do gemido era de dor.


O padre tentou alcançá-la, mas ela trancou-se em seu quarto. Provavelmente, agarrou o terço, ajoelhou-se aos pés da santa e colocou-se a rezar. Clamou misericórdia. A beata rezou pelo padre e pelo dono da voz. Sempre se esquecia de si própria. O padre voltou para seu quarto, bateu no dono da voz. A cabeça do padre estava muito confusa. Ele fora descoberto. Ele poderia negar, negar três vezes. O padre sentia raiva da beata que era bonita. O padre foi tendo idéias que vinham da mente ardilosa do diabo. O padre sentiu medo. Refletiu. Ponderou. Decidiu unir-se ao inimigo.


Certificou-se de que não havia ninguém nos corredores. Bateu à porta do quarto da beata três vezes. Ela hesitou, mas abriu e o deixou entrar. Ele pediu perdão. Clamou misericórdia. A beata disse que ele seria julgado pela justiça divina. O padre ouviu o sussurro do diabo. Não precisou de força para jogar a beata na cama. Ela não se debateu. O padre a sufocou com um travesseiro de penas de ganso. Depois, a acomodou como se estivesse dormindo com os anjos.


O padre voltou para o quarto. E chorou. E riu. E disse ao diabo que iriam acertar as contas. O diabo disse que é o único que tem algo a receber. O padre sentiu vergonha de Deus. Ele queria o dono da voz do gemido. Abraçou-se ao travesseiro e dormiu um sono novo.


Quando acordou, o padre foi verificar se ela estava morta. A beata não respirava. Ele pediu perdão a Deus como quem não crê em mais nada. O padre voltou para o quarto. Em breve, voltaria para o dono da voz do gemido. O padre sentiu-se livre, mas não mais livre do que a beata morta.

27 julho, 2008

(Correndo o risco de parecer soberba)

Precisei ler 33 páginas de Trópico de Cancêr, do Henry Miller, para entender que a geração beatnik já era - pelo menos para mim. Cansei desses autores americanos que viviam à base de drogas, bebidas e sexo. Não é bem o conteúdo que me incomoda, mas sim a forma em que ele é apresentado. Confesso que já li Bukowski e Kerouac e gostei deles. Mas tudo tem sua época. Isto nos é permitido. Assim como nos é permitido ter um integrante de boy band favorito, aprender coreografias das Britney Spears, gostar de Harry Potter (isso quando a gente tem uns 15 anos, mas nada contra quem faz isso até hoje).

Acho que fiquei assim porque terminei o volume II de O Retrato. Não se compara Erico Verríssimo a Henry Miller. Depois das 33 páginas de o Trópico de Cancêr, desisti. Desisti e abri Todos os Nomes, de José Saramago. E foram necessárias 30 páginas para lembrar o quanto Saramago é genial.

***

Amanhã começa mais um semestre e não estou com vontade alguma de ir para a faculdade. Já comprei um caderno bonito, um estojo da Betty Boop e um bloco de anotações cor de rosa. Mas ainda não me animei. Amanhã é dia de acordar ao som de It's Getting Better e respirar fundo outra vez.

19 julho, 2008

Estão dizendo que o novo filme do Batman é muito bom. E, mais do que isso, dizem que o Heath Ledger é o melhor Coringa de todos os tempos. O próprio Jack Nicholson - também conhecido como o melhor ator do mundo e melhor Coringa até então - confirma. Ainda não assisti ao filme, mas se especula que o papel do vilão levou o ator à morte.


Por falar em morte, estou pasma com a morte da Dercy Gonçalves.

16 julho, 2008

O outro Pedro Juan

Quando o autor britânico Graham Greene escrevia suas obras na década de 50, talvez não imaginasse que mais de meio século depois outro escritor reescreveria seus passos - com um toque de ficção. Pois é extamente isso que o cubano Pedro Juan Gutiérrez faz em Nosso GG em Havana, seu mais recente livro lançado no Brasil. O livro não tem Pedro Juan como personagem, mas não abandona o estilo que tornou o cubano admirado no mundo todo.


Nosso GG em Havana se passa na capital de Cuba dos anos 50, até então uma cidade promissora - ainda que já convidativa ao pecado. A história começa quando Graham Greene descobre que é acusado pelo assassinato de um alemão residente em Havana. GG embarca para a ilha cubana com o objetivo de investigar e esclarecer a situação (e, quem sabe, conseguir uma boa idéia para um próximo livro). Aos poucos, se vê em uma trama política complicada, que envolve americanos, soviéticos e alemães.

Pedro Juan traça o perfil de Havana da década de 50 - momentos antes da Revolução Cubana de 59 - ao mesmo tempo em que mostra o que há de mais grotesco (e, por isso mesmo, sedutor para alguns) na cidade. Próximo de hotéis luxuosos, grandes casas noturnas com shows eróticos capazes de surpreender até os mais liberais. O que dizer da apresentação do Super-Homem, por exemplo? Horrível, nojento, mas escrito por Pedro Juan é até engraçado.

E esse é o encanto de Pedro Juan. Ele escreve umas putarias e umas nojeiras que, ainda que desnecessárias à primeira vista, são essenciais para se compreender o espírito de Havana. E a maneira sincera demais, direta demais - e sem censura alguma - só contribui em sua literatura. Ele mostra a capital cubana tal como ela é. Os julgamentos ficam por conta do leitor.

Interessante lembrar que Graham Greene realmente esteve em Cuba e, em 1958, publicou Nosso Homem em Havana, que narra a história de um alemão vendedor de aspirador de pó, extamente como um dos personagens do livro de Pedro Juan.

Nosso GG em Havana difere das outras obras de Pedro Juan, mas é engraçado, dinâmico e dono de uma trama envolvente. E é como olhar um retrato de uma cidade que, ao contrário do que parecia, já estava condenada às conseqüências da Revolução.

Fica a dica.

06 julho, 2008

Sobre a literatura e o cinema de cada dia

Três já foram. Faltam apenas quatro. Bastante, mas estou firme no meu propósito de ler O Tempo e o Vento neste ano. E que livro lindo. Como o Erico Veríssimo sabia escrever. Além da narrativa extraordinária, que prende o leitor da primeira à última página, acho impressionante como ele constrói cada personagem ao mesmo tempo em que traça a história do Rio Grande do Sul. A força da Ana Terra - minha heroína da literatura - , a paciência da Bibiana, o espírito aventureiro de um certo Capitão Rodrigo, a dualidade do caráter de Rodrigo Terra Cambará. Isso para falar apenas de algumas das personagens principais. E o que dizer do velho Fandango e de Don Pepe? Dão um toque especial ao livro. Enfim, leiam O Tempo e o Vento. Recomendo, recomendo, recomendo. Ah, na década de 80, a Globo fez uma minissérie sobre o livro. Acho que faz uns dois anos que o DVD foi lançado. E não está caro. Acho que vou comprá-lo.


Estou terminando O último voo do flamingo, do Mia Couto (voo assim mesmo, sem acento de chapeuzinho do vovô, já que está em português de Moçambique). É sempre bom ler Mia Couto. Não me lembro de ter lido um autor que mistura crítica à política de um país, humor e tom poético.
Na última quinta-feira, fui ao cinema assistir Wall-E. É o melhor filme de animação que eu já vi. A história é tocante - e faz uma séria crítica às conseqüências trazidas pela tecnologia - , as personagens são cativantes. Achei um máximo todos os parelelos traçados com o 2001 - uma odisséia no espaço! Ah, o que dizer de um filme que faz uma barata ser bonitinha e que o final, digo, a parte dos créditos, é o mais bem feito de todos os tempos? E vejam que olhinhos mais expressivos.

02 julho, 2008

O que não pode florir no tempo certo
acaba explodindo depois.
(de O último voo do flamingo)

25 junho, 2008

Menina, amanhã de manhã

Ainda não tive tempo (leia-se inspiração) para escrever sobre o show da Mônica Salmaso que aconteceu aqui em Curitiba no dia 13 de junho. Teatro Guaira lotado, músicas do Chico Buarque revisitadas com maestria pela Mônica e pelo Grupo Pau Brasil. Chorei durante a canção "Ciranda da bailarina" porque lembrei da minha infância. E teve quem saiu de lá respeitando um pouco mais o Chico Buarque e até mesmo concordando comigo quando eu digo que "Construção" é uma das músicas mais geniais do mundo.

Na última segunda-feira, baixei o álbum Iaiá (2004), que estou ouvindo agora mesmo. Nele, Mônica canta uma composição do Tom Zé, "Menina, amanhã de manhã".

Menina , amanhã de manhã
Quando a gente acordar quero te dizer
Que a felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens

Na hora ninguém escapa
De baixo da cama ninguém se esconde
A felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens

Menina, ela mete medo
Menina, ela fecha a roda
Menina, não tem saída
de cima, de banda ou de lado

Menina, olhe pra frente
menina, todo cuidado
Não queira dormir no ponto
Segure o jogo, atenção de manhã

Menina a felicidade
É cheia de praça, é cheia de traça
É cheia de lata, é cheia de graça

Menina, a felicidade
É cheia de pano, é cheia de peno
É cheia de sino, é cheia de sono

Menina, a felicidade é cheia de ano,
É cheia de eno
É cheia de hino, é cheia de onu

Menina, a felicidade
É cheia de an, é cheia de en
É cheia de in, é cheia de on

Menina, a felicidade é cheia de a,
É cheia de é, é cheia de i, é cheia de ó

É cheia de a, é cheia de é,
É cheia de i, é cheia de ó

Aí me emocionei de novo.

Eita semana boa! Irmã em casa (de partida), festa junina na empresa, um monte de músicas boas, um filme lindo demais que comprovou tudo aquilo que passei a acreditar há algum tempo; "O tempo e o vento" pra cima e pra baixo comigo, livro novo do Mia Couto nas melhores livrarias. Assim, só dá pra ser feliz.

23 junho, 2008

Vontade de fazer as malas e viajar pelo mundo, só nós dois.
Nós dois contra o resto do mundo.
E sem pressa vamos conquistanto tudo o que é nosso por direito
O mundo é nosso
Mesmo que tentem nos tirar dele.

15 junho, 2008

Secret Smile

Minha playlist é pra lá de exótica. Tenho vários álbus de vários artistas diferentes. Procurando algo para ouvir, achei essa música.

Secret Smile
(Semisonic)

Nobody knows it but you've got a secret smile
And you use it only for me
Nobody knows it but you've got a secret smile
And you use it only for me

So use it and prove it
Remove this whirling sadness
I'm losing, I'm bluesing
But you can save me from madness

Nobody knows it but you've got a secret smile
And you use it only for me
Nobody knows it but you've got a secret smile
And you use it only for me

So save me, I'm waiting
I'm needing, hear me pleading
And soothe me, improve me
I'm grieving, I'm barely believing now, now

When you are flying around and around the world
And I'm lying alonely
I know there's something sacred and free reserved
And received by me only

Nobody knows it but you've got a secret smile
And you use it only for me
Nobody knows it but you've got a secret smile
And you use it only for me

So use it and prove it
Remove this whirling sadness
I'm losing, I'm bluesing
But you can save me from madness
Now, now

When you are flying around and around the world
And I'm lying alonely
I know there's something sacred and free reserved
And received by me only

Nobody knows it but you've got a secret smile
And you use it only for me
Nobody knows it but you've got a secret smile


E pensei: "Que bom que é passado. Que bom que fui salva. E que bom que acreditei nisso tudo".

Para quem quiser ver e ouvir

11 junho, 2008

O homem que nasceu para ser rei

O céu sorriu no dia em que você nasceu
E eles nos misturam e nos colocam todos juntos aqui
Todo mundo quer ser como você
E você foge e quer ser como eu

Essa mulher esperta só existe em seus pensamentos
Mas no mundo real ela é bem diferente
Seu amor me faz ser quem eu não sou
E eu já fiz e já tentei tudo o que eu posso

Nenhum de nós estava chorando
Eu estou apenas tentando
Ser como o homem que nasceu para ser rei

Nós já sentimos a solidão completamente
Os dias mais difíceis para viver
"Oh, Deus, por favor, me salve
Estou perto de perder quem eu sou"

Seja humilde durante toda sua vida
Eu sou você, esse segredo é só meu
Eu amo o homem que nasceu para ser rei

Então reine em meu corpo
Eu sou parte de todo mundo
Nós queremos ser como o homem que nasceu para ser rei

Quando eu olho ao meu redor só vejo você
Você é muito melhor do que todos nós aqui
Se eu fechar meus olhos, você sabe, só vejo você
O homem que nasceu para ser rei.

09 junho, 2008



Eu carrego alguns segredos de infância. Ok, vamos trocar a palavra "segredo" por vergonha. Minhas três músicas favorita quando eu tinha, sei lá, uns cinco ou seis anos eram Hey Jude, dos Beatles (aliás, qualquer dia eu conto a história minha, do meu pai e dessa música), Like a Prayer, da Madonna e Nothing Compares 2 U, da Sinead O'Connor. Já passaram vários anos e essas ainda estão entre minhas canções prediletas.

Sempre pega bem dizer que gosta dos Beatles. E a Madonna é a única cantora pop que os intelectualóides de plantão que acham que sabem tudo de música admitem. Agora, dizer que Nothing Compares 2 U é uma música linda soa brega. Então, me chamem de brega, crucifiquem-me no hall de quem não entende de música. Eu acho Nothing Compares 2 U simplesmente demais. A letra é linda (triste, porém linda), é repleta de sentimento. E a Sinead O'Connor chora no clipe. Isso me impressionou muito naquela época e me impressiona até hoje.

Lembrei dessa música triste hoje.

01 junho, 2008

Ela (ou a mudança em mim)


A essência ainda é a mesma, mas ela, ela não. Ela não tem mais os cabelos longos. Não mais pinta as unhas. Quase não usa mais maquiagem. A vaidade permanece, mas desta vez, para ela mesma. Ela é para ela mesma. Não mais para os outros.

Agora ela usa óculos. Ela abandonou o salto alto. Ainda bebe café, mas também se entrega ao leite e à coca-light. Ela sente menos medo e mais confiança. Agora ela ouve músicas felizes. Ela sabe escolher amigos. Aprendeu a dizer o que pensa. Defende-se e parte para a briga.

Mais do que nunca, ela quer ser jornalista. Está a um passo. Não há pressa porque há uma vida toda. Ela sabe esperar. Ela quer ler todos os livros, ver todos os filmes, ir a todos os shows. Ela quer escutar Beatles, PJ Harvey e o violão do namorado. Mais do que nunca, ela quer viver.

Ela sabe exatamente do que (e de quem) gosta e o que (e quem) odeia.

Outro dia, ela leu isso:
"O primeiro que parou para pensar foi Cosme. Percebeu que, a vegetação sendo tão densa, ele podia deslocar-se muitas milhas pulando de um ramo para o outro, sem nunca descer. Às vezes, um pedaço de terra nua o obrigava a enormes voltas, mas ele logo aprendeu todos os itinerários obrigatórios e media todas as distâncias não mais segundo nossos parâmetros, mas tendo em mente os traçados sinuosos que devia seguir sobre os ramos. E, onde nem com um salto se atingia o galho mais próximo, passou a usar a astúcia; mas contarei isso mais adiante. Por enquanto, estamos ainda na madrugada em que, ao acordar, encontrou-se no alto de um carvalho ílex, entre a algazarra dos pardais, encharcado de orvalho frio, inteiriçado, ossos moídos, cãibras nos braços e nas pernas, e feliz começou a explorar o novo mundo".

E entendeu que ela foi conhecer o mundo. De mãos dadas.

20 maio, 2008

Papai tinha razão


Hoje, Abbey Road é o melhor disco dos Beatles. Hoje.
Talvez, amanhã seja outro.

13 maio, 2008

Três versos para a insegurança

Se eu me anulo?
Não.
Acho o brilho do coadjuvante extremamente lindo.

11 maio, 2008

Sobre o Frusciante

Sabe, antes de ter este blog, eu usava aquela space live do MSN. Estava lendo as besteiras que postei por lá e encontrei um texto bonito sobre o John Frusciante.

"Lembro de ter lido em algum livro de filosofia, já não me lembro qual, a seguinte anedota: o mestre budista pergunta para seu discípulo o que deve fazer o Iluminado quando recebe uma paulada na cabeça. O discípulo diz: 'não deve se abalar, deve suportar a dor, calar o grito que quer lhe fugir da garganta, resignar-se ao seu destino, aceitar o sofrimento que é inerente à existência humana'. O mestre discorda: 'Mas não, ficar reprimindo a expressão do sofrimento não é aceitá-lo. O Iluminado, quando recebe uma paulada, faz isso - berra de dor! Aceitar a vida como ela é significa aceitar o sofrimento, aceitar a nossa vontade de protestar contra ele, gritar de dor quando sentimos dor'.

Frusciante me deu uma lição parecida. Não conseguimos ser felizes porque fingimos ser alegres o tempo inteiro e andamos pelo mundo com um sorriso falso na cara. Não ousamos botar para fora todos os maus sentimentos que, por ficarem no interior, meio reprimidos e inexpressados, nos bloqueiam o caminho para uma felicidade mais verdadeira, para uma existência mais genuína. Expressar é exteriorizar. Aquela que só exterioriza alegria e clarões deixa dentro de si justamente aquilo que deveria ser lançado fora. Não sei se sei me explicar bem. Mas acho que está aí a chave para entender o porquê a arte de Frusciante é tão fascinante e pode ser tão importante, existencialmente falando".

(Eduardo Carli de Morais)

Bonito mesmo. Sei que o John "década de 90"era mais criativo e melhor guitarrista. E sei também que o John de hoje nem parece o de dez anos atrás. Mas prefiro o atual justamente pelas razões apresentadas pelo autor acima. No fim, a técnica é a parte menos importante da arte. O que realmente importa são as emoções que um artista desperta em seu público. E o Frusciante é bem melhor nisso hoje.

03 maio, 2008

Divulgando a arte alheia

(Yuri Al'Hanati)
(para ler ao som de Good Fortune, PJ Harvey)

De repente, mas sem um minuto de atraso, o cinza se tornou todas as cores. As lágrimas agora são mais de felicidade do que de tristeza. Sim, isso é possível. Me emociono com os comerciais de televisão, com crianças e cachorros e com a mais bela das canções. Isso soa piegas, eu sei. Mas aprendi com Vargas Llosa e seu Travessuras da menina má que o piegas realmente acontece. E a gente se torna brega. E as músicas bregas se tornam lindas. Bem, antes brega do que amargo, culpando o mundo e a vida pela incapacidade de se fazer feliz.

Todos os dias, acordo ao som de It's getting better, dos Beatles. E eu mudei para melhor. Gosto de andar pelo calçadão de mãos dadas. E poucos momentos são tão bons quanto ficar jogando papo fora durante as madrugadas, que agora estão mais frias lá fora. Aprendi muitas coisas - uma das vantagens de uma convivência diária.

Muitas vezes, no ônibus, me pego com um sorriso nos lábios. E me sinto boba, a mais feliz das mulheres. Parece que todas as músicas felizes foram feitas para mim. Para nós. Eu sinto muito por quem não tem, no momento, a mesma chance.

Quero acreditar que o mundo ainda tem jeito. Quero ser uma pessoa melhor. Quero continuar sonhando. Quero continuar dizendo que joguei minha má sorte do topo de um prédio. Ela nunca mais voltará. Nem os meus fantasmas irão me assombrar, não importa quão escura seja a noite. Quero acordar ouvindo Beatles e com o mais belo sorriso ao meu lado.

O amor.

28 abril, 2008

Nothing Fails

It was not a chance meeting
Feel my heart beating
You're the one

19 abril, 2008

Poderia falar de um milhão de coisas apenas para justificar o novo layout do blog. Mas só quero dizer que não, eu não tenho os ossos de vidro.

***

Estou no início do livro Travessuras da menina má, do Mário Vargas Llosa. Faz algum tempo que desejava ler esse livro, mas só agora criei vergonha na cara para tal. Nas férias, durante minha visita ao Chile, li outro livro do Vargas Llosa - Pantaleão e as visitadoras. Divertidíssimo. Pantaleão Pantoja é um oficial do exército peruano extremamente dedicado a seu ofício. Ele é requisitado para uma missão secreta um tanto quanto inusitada: coordenadar o serviço das visitadoras (lê-se prostitutas mesmo) no exército. O que parecia absurdo dá certo. O trabalho das meninas cresce graças à organização do protagonista. No entanto, Pantaleão e seus companheiros são descobertos. Toda a sociedade se volta contra o exército peruano. A situação toma proporções gigantescas. Assuntos mais sérios, como uma seita religiosa que vem matando muitas pessoas no país, são deixados de lado pelo governo e pela mídia. Começa uma verdadeira crucificação de Pantaleão que, claro, leva toda a culpa em suas costas de militar dedicado.

Vargas Llosa apresenta ao público uma narrativa genial. Diálogos entre personagens são mesclados com os divertidos relatórios que Pantaleão escreve e envia a seus supervisores. Mais inteligente do que a narrativa é o conteúdo da obra. Pantaleão e as visitadores é, acima de tudo, uma crítica à hipocrisia e às esferas de poder. O livro mostra como os poderosos se aproveitam da ingenuidade alheia. Quem duvida, espere até a última página, na qual a verdadeira hipocrisia é revelada.

Vontade de embrulhar e dar de presente um exemplar de Pantaleão e as visitadoras a todos aqueles que precisam rever seus conceitos.

09 abril, 2008

Virar a página

Geralmente não falaria o que vou falar agora, mas estou orgulhosa de mim mesma. Não tenho temores de ser eu e apenas eu. Não tenho medo de dizer e defender aquilo que penso e sinto. Não preciso, ao contrário dessa juventude, me esconder atrás de roupinhas indies nem de um amontoado de informações que não servem para nada, a não ser para "conquistar" amizades (sim, conquistar entre aspas mesmo). Posso dizer "eu te amo". Isso sim é liberdade.

***
Mudando de assunto...
Não vejo muita televisão. Assisto apenas aos noticiários, a uns capítulos de novela. Mas então resolvi dar uma chance ao Dexter (e estamos com o DVD desde novembro do ano passado, se não me engano).

Dexter é uma das mais gratas surpresas da TV recente - ou pelo menos do mundo das séries. Ao contrário dos criadores de 24 Horas e de Lost, os idealizadores de Dexter não inovaram na forma de se fazer um seriado e de se contar uma história. Inovaram no conteúdo. O argumento da série é fantástico. O protagonista é um serial killer, um anti-herói. Mas tem um bom coração, quer ver e fazer justiça. E o desenvolvimento da trama é excelente. Não vou contá-lo para não estragar a surpresa de quem, eventualmente, ainda não tenha visto a série.

Para melhorar, Dexter possui um elenco de primeira. Todos os atores são ótimos. E Michael C. Hall, que dá vida ao protagonista, é um dos melhores atores em atividade (costumo julgá-los pela expressão do olhar e a de Michael é infalível).

E o mais importante para mim: Dexter me faz lembrar de como eu sempre quis policial. Quem sabe um dia.

24 março, 2008

Mais de Waking Life

"When it was over, all I could think about was how this entire notion of oneself, what we are, is just this logical structure, a place to momentarily house all the abstractions. It was a time to become conscious, to give form and coherence to the mystery, and I had been a part of that. It was a gift. Life was raging all around me and every moment was magical. I loved all the people, dealing with all the contradictory impulses - that's what I loved the most, connecting with the people. Looking back, that's all that really mattered".

Pois é. Algumas pessoas são mesquinhas. Ruins mesmo. Algumas, não todas. Não é preciso ser filósofo para se chegar a essa conclusão. Mas é foda quando se sente a filhadaputice alheia na sua própria pele.

Como li há alguns dias, a ruindade é questão de mais ou menos coragem. Coragem para ser escroto, acho. Eu não sou ruim. Também não sou uma pessoa difícil de se lidar - ao contrário do que pensa certa autoridade (?). Mas não mexam comigo. E não ousem mexer com aqueles que eu amo.

09 março, 2008

Man on the Train: Hey, are you a dreamer?
Wiley: Yeah.
Man on the Train: I haven't seen too many around lately. Things have been tough lately for dreamers. They say dreaming is dead, no one does it anymore. It's not dead it's just that it's been forgotten, removed from our language. Nobody teaches it so nobody knows it exists. The dreamer is banished to obscurity. Well, I'm trying to change all that, and I hope you are too. By dreaming, every day. Dreaming with our hands and dreaming with our minds. Our planet is facing the greatest problems it's ever faced, ever. So whatever you do, don't be bored, this is absolutely the most exciting time we could have possibly hoped to be alive. And things are just starting.

13 fevereiro, 2008

It's getting better all the time
A little better all the time
I have to admit it's getting better
It's getting better since you've been mine

31 janeiro, 2008

A bondade, muitas vezes, é ralativa e alguém precisa fazer o trabalho sujo que purifica o próximo.

"Será que alguém terá coragem de perguntar? E se isso for feito, será que alguém terá coragem de responder?".

18 janeiro, 2008

Não, não tenho os ossos de vidro.

07 janeiro, 2008

1 2 3 4

Confesso: estava meio sem querer ouvir a Feist porque, bom, vi um clipe dela na MTV, canal que não inspira lá muita confiança. Venci o preconceito e baixei o último cd da cantora canadense (The Reminder). Gostei demais. Calminho, cheio de personalidade - embora ela seja comparada com a australiana Cat Power - , belas letras. Um dos melhores discos de 2007. Um parênteses: ano passado foi ótimo para as meninas da boa música. Um ano em que Britney enlouqueceu e no qual tivemos gratas surpresas como Kate Nash e Regina Spektor, além da própria Feist.

Gosto de todas as faixas de The Reminder. E isso é muito raro. Aprecio mais as músicas My moon, my man e The limit to your love. Lindas. A primeira é mais agitada, dona de uma melodia dessas que ficam na cabeça o dia todo. A outra é uma balada das que me emocionam. E arrisco a dizer que a voz da Feist deixam todas as conções bem mais bonitas.

Quero retornar ao ponto em que mencionei o termo "belas letras" (um quesito que deve ser elogiado quando ocorre, já que hoje uma música sobre uma menina que pulou para entrar na calça jeans faz sucesso). Quando assisti ao clipe de 1 2 3 4, pensei: "ok, essa música deve ser bobinha". Errei feio. Ela é bem mais profunda do que parece. Fala sobre nossos sonhos de adolescentes que ainda estão presentes. Numa dessas noites em que demorei para dormir, fiquei pensando nisso. Queria mudar o mundo, mas não vou. Contudo, sei que de alguma forma, ainda é isso o que eu quero. E por aí vai. Admiro quem consiga pensar nessas coisas. Se você não consegue, sinto muito, mas nem eu nem o mundo esperamos muito de você.

Fica a dica.